quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Percepção de risco

Os acidentes estão sempre relacionados aos riscos presentes nas atividades, ao tipo de tarefa, ao ambiente e às pessoas. O conceito de risco é complexo e as pessoas são mais ainda. De um modo geral, todos tendem a resistir à idéia de que se encontram em perigo e muitas pessoas subestimam o perigo e a possibilidade de sofrer ou causar acidentes. Por exemplo, quase todo mundo acha que dirige melhor do que realmente dirige ou que tem menos chance de ter câncer do que outras pessoas. Este otimismo irreal baseia-se na desconsideração de que o perigo é uma ameaça constante.


Uma cultura de segurança é definida pelo grau de percepção de risco que os indivíduos possuem do ambiente. Ela depende da educação e dos valores de vida que cada indivíduo tem em relação a si, às pessoas a sua volta e a sociedade como todo, sendo definida como a experiência de contato com um perigo, alertada por meio dos sentidos (audição, visão, tato, olfato e paladar) e interpretada pelo indivíduo que então, decide o que fazer.

Diante de um tiroteio, de um incêndio ou de um cão bravio, as pessoas podem ter reações diferentes em função de suas características individuais. Umas irão correr, outras ficarão paradas em pânico, outras podem gritar, desmaiar, etc. Mesmo que todas estas reações sejam voltadas para auto-proteção, elas não serão iguais entre pessoas de cultura e educação diferentes. Para podermos entender a percepção de risco, precisamos compreender os conceitos e as diferenças entre perigo e risco.


O perigo é definido como uma fonte ou situação com potencial para provocar danos em termos de lesão, doença, prejuízo material, dano ao meio ambiente ou mais de uma destas conseqüências. O risco é entendido como uma combinação da probabilidade de ocorrência e da conseqüência de um determinado evento perigoso. Quanto maior for a possibilidade de um evento perigoso ocorrer e quanto maior for as suas conseqüências, mais arriscada será uma atividade.

Sabemos por exemplo, que a gasolina é um perigo em vista de suas características inflamáveis. Porém o grau de risco vai depender da forma como ela é manuseada, ou seja, da probabilidade de causar dano às pessoas. Se numa situação hipotética a gasolina for armazenada em um recipiente fechado e seguro o risco de dano será baixo, porém, se ela for armazenada em um recipiente aberto e desprotegido o risco de incêndio será alto.


Avaliar os riscos consiste em se identificar o quanto estamos seguros lidando com os perigos à nossa volta. Para isso, devemos identificar os perigos, analisar as conseqüências de um evento perigoso, a probabilidade de este evento acontecer e a freqüência com que ele pode se repetir. Existem diversas formas de se avaliar as condições de risco de uma atividade, mas isso só será comentado em outras postagens.

Abaixo seguem algumas das condições comportamentais que influenciam a forma de se perceber os riscos:

Medo – Uma preocupação sobre uma situação de risco. O que mais preocupa: ser comido por um tubarão ou morrer de uma doença cardíaca? Ambos matam, mas os problemas cardíacos apresentam uma maior probabilidade de ocorrência. As perdas que mais tememos são as mais preocupantes, e o temor é o reflexo daquilo que pensamos sobre uma situação de risco.

Controle – Ter o controle da situação aumenta a sensação de segurança. A maioria das pessoas sente-se segura quando está dirigindo, pois têm o sentimento de poder controlar os acontecimentos. Quando elas estão na carona, se sentem nervosas por não terem o controle.

Escolha - Um risco escolhido por nós mesmos nos parece menos perigoso do que um outro que nos seja imposto por outra pessoa. Alguém acha perigoso e preocupante que outros motoristas usem o telefone celular enquanto dirigem mesmo que ele próprio assuma o mesmo tipo de risco. O sentimento de controle que se tem quando se está dirigindo contribui para esta percepção.

Riscos novos – Novas situações de risco são consideradas mais terríveis do que aquelas com os quais convivemos há mais tempo, pois o conhecimento nos ajuda a contextualizá-las. Seria melhor morrer de uma doença conhecida do que de uma desconhecida, mesmo que a conseqüência não mude.

Conscientização - Quanto mais consciência se tem sobre a exposição há um determinado agente de risco, maior é a preocupação da pessoa sobre o assunto. Quem desconhece o risco, não tem objeção em se expor a eles. Quem se expõe a níveis de ruído ou som elevado não conhece as conseqüências maléficas desta exposição.

Possibilidade de impacto pessoal - O risco parece maior quando a vítima é a própria pessoa ou alguém próximo a ela. Quanto maior a proximidade e o conhecimento das conseqüências do risco, maior o temor. A notícia de que um tanque de etanol vai explodir na China causa mais curiosidade do que temor.

Protecionismo - A sobrevivência de uma espécie depende da sua prole. Por isso, os riscos que expõem as crianças parecem mais graves do que os riscos aos quais são expostos os adultos. Em segundo plano, os riscos que afetam as mulheres são mais considerados do que os que os homens.

Relação custo-benefício - É o principal fator que determina o medo diante de uma ameaça. Se uma escolha for vista como benéfica, o risco a ela associado parecerá menor do que quando tal benefício não for percebido. No entanto um benefício aparente e imediato pode trazer prejuízo sério em longo prazo. A escolha de fumar ilustra bem esta condição.

Memória de riscos - Quando ocorre um acidente, o risco passa a ser lembrado mais intensamente. As experiências pessoais são um elemento importante da percepção, pois determinarão a atenção dada a certas situações.

Efeitos sobre a segurança pessoal e bens materiais - Um evento é percebido como perigoso quando afeta interesses e valores fundamentais, como saúde, moradia, valor de uma propriedade e futuro.